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A Máquina do Tempo
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- Derek Willian
The Time Machine by H. G. Wells
Title: The Time Machine
Author: H. G. Wells
Subject: Science Fiction
Language: English
Source: Project Gutenberg
Introdução
O Viajante do Tempo (pois assim será conveniente chamá-lo) estava nos explicando um assunto recondito. Seus olhos cinza pálidos brilhavam e cintilavam, e seu rosto, normalmente pálido, estava corado e animado. O fogo ardia intensamente, e o brilho suave das luzes incandescentes nas flores de prata refletia as bolhas que cintilavam e desapareciam em nossos copos. Nossas cadeiras, sendo patenteadas por ele, nos envolviam e acariciavam em vez de simplesmente serem sentadas, e havia aquela atmosfera luxuosa de depois do jantar, quando o pensamento flui livremente, sem as amarras da precisão.
E ele nos apresentou sua ideia dessa forma—marcando os pontos com seu dedo indicador magro—enquanto nos sentávamos e observávamos preguiçosamente seu entusiasmo com essa nova paradoxa (ou assim nos parecia) e sua fecundidade de pensamento.
— Vocês devem me acompanhar com atenção. Terei que contestar uma ou duas ideias amplamente aceitas. A geometria, por exemplo, que lhes ensinaram na escola, é baseada em um equívoco.
— Não é um pouco exagerado nos pedir para começar por aí? — disse Filby, um sujeito argumentativo de cabelos ruivos.
— Não pretendo pedir que aceitem nada sem uma base razoável. Logo, vocês admitirão o que preciso que admitam. Vocês sabem, é claro, que uma linha matemática, uma linha de espessura nula, não tem existência real. Ensinaram-lhes isso? Nem mesmo um plano matemático tem existência real. Essas coisas são meras abstrações.
— Isso está correto — disse o Psicólogo.
— Da mesma forma, um cubo, tendo apenas comprimento, largura e altura, não pode ter existência real.
— Aí eu discordo — disse Filby. — Claro que um corpo sólido pode existir. Todas as coisas reais...
— Assim pensa a maioria das pessoas. Mas espere um momento. Um cubo instantâneo pode existir?
— Não entendi — disse Filby.
— Um cubo que não dura absolutamente nada no tempo pode ter existência real?
Filby ficou pensativo.
— Claramente — continuou o Viajante do Tempo — qualquer corpo real deve ter extensão em quatro direções: deve ter Comprimento, Largura, Altura e — Duração. Mas, devido a uma limitação natural da carne, que explicarei em um momento, tendemos a ignorar esse fato. Na realidade, existem quatro dimensões: três que chamamos de planos do Espaço e uma quarta, o Tempo. Entretanto, há uma tendência em distinguir artificialmente as três primeiras da última, porque nossa consciência se move intermitentemente em uma única direção ao longo desta última, do início ao fim de nossas vidas.
— Isso — disse um jovem, tentando reacender seu charuto sobre a lâmpada — está... muito claro, de fato.
— Agora, é muito notável como isso é amplamente ignorado — continuou o Viajante do Tempo, um pouco mais animado. — Na verdade, é isso que se quer dizer com Quarta Dimensão, embora alguns que falam sobre ela nem saibam o que realmente significa. Trata-se apenas de uma outra forma de enxergar o Tempo. Não há diferença entre o Tempo e qualquer uma das três dimensões do Espaço, exceto pelo fato de que nossa consciência se move ao longo dele. Mas algumas pessoas interpretaram essa ideia de forma equivocada. Vocês já ouviram falar sobre essa Quarta Dimensão?
— Eu não — disse o Prefeito Provincial.
— Basicamente, é o seguinte: o Espaço, como definido pelos matemáticos, possui três dimensões, que podem ser chamadas de Comprimento, Largura e Altura, e pode sempre ser definido por referência a três planos, cada um perpendicular aos outros. Mas algumas mentes filosóficas começaram a questionar por que três dimensões especificamente—por que não uma outra direção perpendicular às três existentes?—e até tentaram construir uma geometria Quadridimensional. O professor Simon Newcomb falou sobre isso na Sociedade Matemática de Nova York há um mês. Vocês sabem como, em uma superfície plana, que tem apenas duas dimensões, podemos representar um sólido tridimensional? Da mesma forma, eles acreditam que, por meio de modelos tridimensionais, poderiam representar um de quatro dimensões—se conseguissem dominar sua perspectiva. Entendem?
— Acho que sim — murmurou o Prefeito Provincial e, franzindo as sobrancelhas, caiu num estado introspectivo, movendo os lábios como quem repete palavras místicas. — Sim, acho que agora compreendo — disse ele depois de um tempo, iluminando-se momentaneamente.
— Pois bem, não me importo de dizer que venho estudando essa geometria das Quatro Dimensões há algum tempo. Alguns dos meus resultados são curiosos. Por exemplo, aqui está um retrato de um homem aos oito anos, outro aos quinze, outro aos dezessete, outro aos vinte e três e assim por diante. Todos esses são, evidentemente, seções, por assim dizer, representações tridimensionais de sua existência quadridimensional, que é uma coisa fixa e imutável.
O Viajante do Tempo fez uma pausa para que assimilássemos essa ideia antes de prosseguir:
— Os cientistas sabem muito bem que o Tempo é apenas uma forma de Espaço. Aqui está um gráfico popular da ciência, um registro meteorológico. Esta linha que traço com o dedo mostra a variação do barômetro. Ontem estava assim, à noite caiu, esta manhã subiu novamente e seguiu um curso ascendente até aqui. Certamente o mercúrio não traçou essa linha em nenhuma das dimensões do Espaço comumente reconhecidas? No entanto, traçou essa linha, e essa linha, portanto, devemos concluir, foi ao longo da Dimensão Temporal.
— Mas — disse o Médico, olhando fixamente para uma brasa na lareira — se o Tempo é realmente apenas uma quarta dimensão do Espaço, por que sempre foi considerado algo diferente? E por que não podemos nos mover no Tempo como nos movemos nas outras dimensões do Espaço?
O Viajante do Tempo sorriu.
— Tem certeza de que podemos nos mover livremente no Espaço? Para os lados, para frente e para trás, podemos ir livremente, e sempre pudemos. Concordo que nos movemos livremente em duas dimensões. Mas e quanto ao alto e ao baixo? A gravidade nos limita aí.
— Nem tanto — disse o Médico. — Existem balões.
— Mas antes dos balões, exceto por pulos esporádicos e as irregularidades do terreno, o homem não tinha liberdade de movimento vertical.
— Ainda assim, podiam se mover um pouco para cima e para baixo — disse o Médico.
— Muito mais facilmente para baixo do que para cima.
— E no Tempo não podemos nos mover de forma alguma, não podemos escapar do momento presente.
— Meu caro senhor, é exatamente aí que você está errado. Estamos sempre nos afastando do presente. Nossa existência mental, que é imaterial e não tem dimensões, está se deslocando ao longo da Dimensão Temporal a uma velocidade uniforme, do berço ao túmulo. Da mesma forma que viajaríamos para baixo se começássemos nossa existência cinquenta milhas acima da superfície da Terra.
O Psicólogo interveio:
— Você pode se mover em todas as direções do Espaço, mas não pode se mover no Tempo.
— Essa é a essência da minha grande descoberta.
Filby riu.
— Mas eu tenho provas experimentais — disse o Viajante do Tempo.
E saiu da sala.